sábado, 10 de julho de 2010

Carlos Alberto Soffredini

Autor de mais de 22 textos dramatúrgicos, dos quais apenas três nunca foram montados, e com pelo menos cinco deles objeto de inúmeros prêmios, além de várias montagens bem sucedidas sob responsabilidade de importantes diretores, Carlos Alberto Soffredini completou, até sua morte em outubro de 2001, 40 anos de carreira. Estreou em 1962, no Teatro Escola da Faculdade de Filosofia de Santos, o TEFFI, e em 1967 ganharia o primeiro prêmio no Concurso Nacional de Dramaturgia do Serviço Nacional de Teatro com a peça O Caso Dessa Tal de Mafalda, Que Deu Muito O Que Falar e Que Acabou Como Acabou, Num Dia de Carnaval.



A produção criadora de Soffredini envolve roteiros para rádio, cinema e televisão, além de sua prática de diretor. De um modo geral, seus textos partem de pesquisas, constróem – se a partir de uma obra anterior, de outro autor, que pode situar-se tanto no campo do teatro ou da literatura, como no da música ou até mesmo da sociologia. Para Eliane Lisboa, autora de uma tese sobre seu trabalho, este é um dos aspectos fundamentais da “dramaturgia Soffrediniana” que se configura nessa relação essencial com uma obra anterior, que ela não esconde, revela, e com a qual dialoga em permanência.


“ Essa pluralidade de vozes da cultura da qual faz parte mostra-se como experiência de linguagem – no seu próprio caráter teatral. Não se trata simplesmente de uma adaptação, para o teatro, de um texto que originalmente não o era. O trabalho de Soffredini extrapola este passo simples e vai se constituir num exercício de efetiva criação dramatúrgica onde uma obra primeira pode funcionar como estopim e também como elemento aglutinador de outros que serão incorporados a ela em seu processo criativo”. Seguindo essa característica, Mais quero o Asno que me Carregue que Cavalo que me Derrube é extraída da Farsa de Inês Pereira de Gil Vicente; Vem Buscar-me que Ainda Sou Teu (prêmios APCA e Mambembe do MEC em 1979 e APETESP em 1990), baseia-se na canção de Vicente Celestino, Coração Materno, e em peça homônima de Alfredo Viviani; Na Carrêra do Divino ( prêmios APCA e Mambembe do MEC em 1979) nasce dos estudos de Antônio Cândido e de Amadeu Amaral, respectivamente Os parceiro do Rio Bonito e Dialeto Caipira; O Guarani é uma recriação em versos brancos da obra homônima de José de Alencar: O Pássaro do Poente (prêmio Mambembe do MEC –RJ em 1988) tem origem na lenda japonesa A Mulher Grou, transcrita por Ookawa Essei; Quixote é uma atualização do personagem de Cervantes; A Madrasta é uma somatória de contos populares infantis, entre eles e principalmente, A Menina enterrada viva; Trem de Vida tem como base a canção de Milton Nascimento, Encontros e despedida; o Auto de Natal Caipira está baseado nos Autos de Natal de Gil Vicente – principalmente no Auto de Sibila Cassandra e em contos e autores populares brasileiros. Minha Nossa, uma das poucas exceções, parte de pesquisas jornalísticas e depoimentos sobre o atentado ‘a imagem de Nossa Senhora Aparecida, ocorrido em 1978.


Tendo como base alguns contos populares registrados por Luís Câmara Cascudo na obra Contos Populares do Brasil e por Silvio Romero em Contos Tradicionais do Brasil, Soffredini escreveu Hoje é Dia de Maria em 1995, por encomenda de Luiz Fernando Carvalho, para a um Especial de uma hora e meia de duração a ser levada ao ar pela TV Globo. Nesse texto, vamos encontrar um intenso estudo dialetal, como o realizado em Na Carrêra do Divino, revelador da expressão do caipira típico, por meio de seu universo, seus “causos”, mas formado por vocabulário bastante específico, retirado sobretudo dos estudos feitos por Amadeu Amaral. Este trabalho de reconstituíção da linguagem caipira reafirma o seu caminho na busca da oralidade na dramaturgia, permitindo-lhe ganhar um domínio de linguagem que voltaria a explorar no roteiro de Marvarda Carne, filme com Fernanda Torres no papel principal e ganhador do Kikito de Melhor Roteiro de 1985 no Festival de Gramado.