domingo, 10 de outubro de 2010

Como ver, mas não com os olhos?


Cada mínimo passo é um grande passo. Cada milímetro de movimento é um kilometro de intenção. Quanto mais um órgão do sentido se manifesta dentro de nós, mais deixa outros mais e mais aguçados. Como é bom ver com os olhos da alma! É uma percepção indescritível e inimaginável. A mais hábil águia, que enxerga ao longe, mas somente o faz quando está com fome. Nós não! Vemos sem nada esperar em troca. Observamos apenas pelo prazer de observar. Detalhamos, às vezes, pelo simples prazer de criticar. Às vezes! Mas olhamos! Olhamos com os olhos do coração. Nós, atores, sentimos na alma, coisas que não poderíamos sentir em 40 vidas. Simplesmente pelo mérito de podermos viver 40 vidas ou mais, em apenas uma vida.

É por isso que nosso olhar é tão detalhista e tão... olhar. Não é só ver e deixar que, despercebidamente, a imagem se esquive da memória. Não! Por toda parte que olhamos, vemos um individuo que poderia ser nós mesmos. Vemos um individuo que, se não o formos na vida real, o seremos no palco. E se não o seremos, levaremos dele aquele simples olhar, que o caracteriza como tal.

Como é bom olhar com os olhos! Mesmo que seja o olhar de um cego!

Vagner de Alcântara

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A Linguagem da Encenação Teatral - Jean Jacques Roubine

Nós, da Cia. de Investigação Teatral Minha Nossa!, fizemos um estudo sobre o livro: A linguagem da encenação teatral, de Jean Jacques Roubine, que aborda várias características sobre a evolução do teatro. A partir de hoje, poderemos acompanhar o resumo dos seis capítulos elaborados por cada integrante da Cia.

Capítulo I - O nascimento do teatro moderno
Nos últimos anos do século XIX, ocorreram dois fenônemos, ambos resultantes da revolução tecnológica, de uma importância decisiva para a evolução do espetáculo teatral. Em primeiro lugar, começou a se apagar a noção das fronteiras e, a seguir, a das distâncias. Em segundo, foram descobertos os recursos da iluminação elétrica. (Roubine)

A caracterização do teatro moderno surgiu através de alguns intelectuais do teatro, pois foi percebida uma necessidade de mudança, de superação das teorias já praticadas. A seguir, duas características que contribuíram às necessidades dos intelectuais:


1º) Ampliou-se as fronteiras e as distâncias: as fronteiras geográficas e políticas existentes até 1840, e o teatro francês foram ampliados a partir de 1860. As ampliações das teorias e práticas teatrais foram transformadas além de uma tradição nacional. Essa constatação aplica-se ao naturalismo criado na França, depois em Berlim, Moscou e Noruega. Tal difusão ultrapassa as obras e produtos, divulgando teorias, pesquisas e práticas. Pode-se dizer que as tournées também tiveram sua contribuição nesse processo.

2º) Surgimento dos recursos da iluminação elétrica: elemento revolucionário em relação ao espaço cênico, na representação simbolista e naturalista também, pois na simbolista a luz elétrica ajudou a modelar, escupir um espaço vazio, dar vida ao espaço do sonho e da poesia, além de novas experimentações surgindo a ideia de não se ter materiais em cena. Já no naturalismo a luz foi utilizada para acentuar o efeito do real, conforme figura


Na representação naturalista não podemos deixar de citar Antoine, primeiro encenador moderno ou que pelo menos teve a primeira assinatura registrada pelo teatro, e também foi o primeiro que teorizou a arte da encenação, surgindo o encenador e mostrando sua importância que vai além de marcação de entradas e saídas, gestos dos intérpretes, disposição de cenas, mas a visão por um todo e a prática do teatro em geral, o espaço (palco e platéia), o texto, o espectador e o ator. Mesmo com toda essa descoberta, Antoine preconizou o fim da representação figurativa, rejeitou o painel pintado (dentro do espetáculo teatral houve momentos em que o pintor e sua obra eram mais importantes que a própria peça) e truques ilusionistas, introduzindo no palco objetos reais. Alguns pensadores diziam que o teatro de Antoine correspondia à concretização do sonho do capitalismo industrial, à conquista do mundo real, científico, colonial, à estética, à dominação do mundo, reproduzindo-o. Mas, como um novo teatro, ele mostrou a presença do objeto real que nos traz à mente a corporalidade do mundo.


Outro aspecto que passou por transformações dentro do cenário teatral foram as Imagens Cênicas. Os simbolistas trouxeram os pintores e suas pinturas ao cenário tornando o espetáculo teatral um anexo da pinacoteca ou do livro de arte, enriquecendo a arte da encenação.


A utilização das cores também foi algo que se modernizou dentro do cenário teatral, conforme cita Alphonse Germain "A cor...engenhosamente distribuída (...) atua sobre as multidões quase tanto quanto a enlouquencia". Um exemplo de utilização das cores no teatro foi na encenação da peça Dido e Enéias de Purcell, onde as almofadas do trono escarlates (vermelho) no primeiro ato, se tornam pretas na última cena, quando Dido chora a perda de Enéias e entoa seu canto de morte. Já Denis Bablet utilizava-se das cores azul escuro, violeta claro, laranja, verde-musgo, verde-luar e verde-água para simbolizar nevoeiros, reflexos de mistério e da melancolia no drama.


É importante ressaltar também, na evolução do teatro, o Surrealismo apresentado na peça O Rei Ubu, onde este apecto apresentou-se nu, dando uma liberdade e flexibilidade de movimentos, como exemplo: o corpo não era só um corpo, poderia ser utilizado como uma porta. Conforme Jacques Robichez, o surrealismo trazia o desejo de provocação, de negação e de destruição do teatro que era mostrado na época.



Com todas essas pesquisas e descobertas dos pensadores e encenadores a respeito do universo teatral, sejam eles naturalistas, simbolistas ou surrealistas, questionou-se a relação do espectador com o espetáculo. Assim, o espectador foi direcionado às mais diversas situações, como a de que na metade do século XX, houve um consenso quanto à condenação do espetáculo mimético herdado do naturalismo, em que o espectador estava reduzido à pura passividade intelectual. Tudo lhe era mostrado e o espectador digeria.


Meyerhold gostaria de arrancar do espectador a sua não existência, ou seja, o que foi induzido pelo naturalismo, e associá-lo ao trabalho do ator, do diretor, e do intérprete, fazer dele o quarto criador. Por outro lado, seria um diferente modo de relacionar o espectador com o espetáculo, pois é engajando-o no jogo da imaginação, em que a sugestão substitui a afirmação, e a alusão a descrição.


Segue duas figuras que pode-se chamar do "antes" da modernização do teatro e o "depois", não desmerecendo nenhuma, mas percebendo a importância de todo o processo para se chegar nessa evolução.





Rosangela Sierra